terça-feira, 3 de agosto de 2010

Salt agrada e satisfaz

Angelina Jolie é Evlyn Salt (foto Columbia Pictures)
“Salt”, com Angelina Jolie, em cartaz nos cinemas desde a última sexta-feira, num lançamento simultâneo ao dos Estados Unidos, é puro cinema de ação. Correm 1 hora e 39 minutos sem nenhum bocejo, com o espectador, ao final, já disparando o reloginho mental à espera de “Salt 2”. O roteiro de Kurt Wimmer é de todo improvável, mas não é absurdo. Estórias sobre infiltração de espiões em ambos os lados, nos Estados Unidos e na Rússia, são conhecidas. O difícil é montar um roteiro com credibilidade. Wimmer consegue. Mas, possivelmente, seria um filme menor se tivesse sido executado como o planejado inicialmente, com Tom Cruise na pele do agente infiltrado. Foi um lance de sorte, que acertou na mosca, mudar a personagem para uma mulher. Ter buscado Angelina Jolie para o papel de protagonista completa o acerto do estúdio (Sony). Seu desempenho é uma pequena jóia. Mostra por que ela é hoje a mais versátil das atrizes de Hollywood. Não apenas porque se empenhou em fazer as suas próprias cenas de risco, sem uso de dublês. Mas pela credibilidade que ela empresta aos mais absurdos encaixes do roteiro, como o de escapar de um bunker da CIA sem que seja detida, ou de se entregar ao serviço de contra-espionagem, para apenas poucos minutos depois livrar-se de algemas, guardas e abalroamentos espetaculares de carros e retomar sua rota alucinada de fuga. Embora todos saibamos que virá pela frente um happy end, “Salt” tem engenhosidade suficiente para iludir e supreender, como na revelação do mais graduado dos agentes russos infiltrados. Sabemos que a realidade frequentemente costuma ser mais dura do que a ficção. E que histórias de epiões levam, com frequência, a extermínios insolúveis e sofisticados. Espiões russos não têm nada de primarismo como o jogo de bem e mal hollywoodiano sugere. O assassinato do ex-espião russo Alexander Litvinenko, em 2006, envenenado lentamente por Polônio 210, em plena Londres,  mostra que a penumbra assustadora do submundo da espionagem pode mesmo superar, largamente, a ficção. Como, então, nos satisfazemos com as peripécias de “Salt”, mesmo alertas contra o jogo maniqueista do bem contra o mal? O desempenho convincente de Angelina Jolie potencializa a boa trama e desperta a dopamina do bem-estar que existe em todos nós. O herói em desalinho superando as barreiras da incompreensão agrada e satisfaz. 

2 comentários: