segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O improvável fez o grande momento

Quando a bola tocou a rede do canto oposto do goleiro Renan Ribeiro, do Galo mineiro, no chute cruzado de Adriano, deu-se a catarse sempre sonhada pela torcida corintiana, mas dificilmente imaginada com tamanho requinte. Porque imaginava-se, até, que Adriano pudesse mesmo fazer um gol decisivo, mas nunca com aquela parábola improvável. Talvez um cabeceio numa bola batida de escanteio, ou um pé salvador em bola mascada na pequena área do Galo. Mas não, os deuses do futebol cuidaram de dar ao Pacaembu lotado uma tempestade perfeita. A arrancada de 50 metros de Emerson; o deslocamento do camisa 10 em bela sincronia, tomando a frente do zagueiro; o passe preciso do Sheik, nem tão forte nem tão fraco; o tempo de bola justo como uma seda deslizante em corpo de mulher recém feita -- ainda assim, o desenho da jogada prometia talvez o cruzamento para o outro avante, Liedson, com sorte tentar conferir. Mas não, do incerto fez-se o tento crucial. Praticamente sem ângulo, ante um goleiro que crescia a sua frente, fechando os espaços e deixando-lhe, no máximo, algo como 30 graus de raio, o Imperador tocou a bola sutilmente com o pé bom, o canhoto. A curva tornou-se uma reta. A angústia, alegria. Tudo muito intenso e emocional como no gol salvador do Fenômeno contra o Palmeiras em Presidente Prudente, três anos antes. Renasce de vez o Imperador? Ninguém pode garantir. Cresce o Timão para o inevitável desfrute da glória de campeão, neste chorado Brasileirão de 2011? Tampouco dá para cravar, mesmo a duas rodadas do fim do campeonato. O certo é que o sublime se inscreveu na tarde outonal do Pacaembu e produziu o lance fatal para o Galo. É bom ver um atleta de alto nível renascer, mesmo que por um momento. Prolongue-o, Adriano. O Corinthians agradecerá e o futebol mais ainda.

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