sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Duas paixões



Noitinha de sexta, depois de uma semana de trabalho duro, alivio-me ouvindo duas de minhas paixões maiores, Kurt Weill e Anne Sofie Von Otter. A lindíssima mezzo soprana sueca tem um dos melhores discos que conheço, Speak Low, interpretando esta e outras canções do grande compositor e parceiro musical de Bertold Brecht nos anos 20 e primeira metade da década de 1930. Aqui, uma amostra recolhida no youtube de I'm a Stranger Here Myself. A letra já é do tempo de Weill na Broadway, após ter fugido do nazismo e se exilado nos Estados Unidos, em 1935.

domingo, 15 de agosto de 2010

As dores do tempo

Enfermeira do meu médico
(quem me dera!)
Sexta-feira, 13 de agosto, dia normal. Sem gato preto nem escadas por baixo das quais passar. Noitinha chegando e eu já em casa, recebo um telefonema de trabalho vindo das alturas. Mais não posso dizer. Mas anima. Estimula como ceva de beira de rio. A gente vai pondo querela dia após dia, até que, ôps!, o piau fisga. O lambari ainda não está na panela, mas as águas começam a se movimentar suavemente. Nem tão paradas para só dar traíras, nem tão revoltas para dar peixe nenhum. Eis, então, que resolvo enfrentar o inadiável. Os exames estão prontos desde o dia 10. Aquela coisa: urina, urina 1, PSA, uréia blá, blá, blá. Códigos e senhas postos no portal do laboratório, resultados na tela da minha boa maçãzinha; "- Não seja modesto, Sr. Pé, a máquina é um Mac parrudo que você regateou de seu tecno-vídeo-filho", buzina aqui por sobre o meu ombro esquerdo o alterego Ed. Mas vejo os números. Tudo ótimo e até mesmo um PSA de garotão. Pronto, fico feliz. Já tenho munição pra dizer pro meu prostático médico: - "Tá vendo, tô beleza. Toque retal só daqui a 20 anos. Me inclua fora desta, por favor." Mas... sempre tem um mas. Vejo um 222 na linha da dosagem de glicose e comparo com os indicadores de referência. O ponto de corte é 100. Abaixo disso, beleza. Acima, numa faixa de 100 a 125, intolerância a glicose; depois, pra cima de 126, o golpe: diabetes. Pronto, já me desabalo a googar pra saber quanto tempo de vida ainda tenho. Não faça drama, diz-me a mulher amada piedosa; meu anjo bom. Falo com meu chefe ao telefone. O cara tem estrada rodada nesses assuntos e me aquieta. "Calma, você não é diabético, você apenas está tendo uma crise de diabetes", diz ele. É como se o sinal amarelo tivesse acendido. "Mas pode ir tratando de cortar aqueles doces que nos seduzem em nossos almoços. Vamos ter refeições mais frugais", ele me põe no chão de novo. Tá bom, penso. Vou voltar ao médico e ver o diagnóstico completo. O duro de ter 55 anos é isso: o cara tem uma vitalidade intelectual no zênite, mas um ranger de ossos que já vai soando como uma engrenagem com pouca graxa. Resta o consolo da experiência. - O homem maduro é um homem experiente, diria um sábio. Sim, mas o que é a experiência senão "um carro numa noite chuvosa e escura, com os faróis virados para dentro"? - definiu amargamente o médico e memorialista mineiro Pedro Nava. Seja como for, depois que esta gripezinha chata for embora, prometo que vou cair na piscina de novo e voltar a fazer 2 mil metros. Terei pulmões de Campos do Jordão.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Camisa também perde jogo

Olympikus III, do Flamengo
O mais surpreendente no jogo Corinthians 1 X 0 Flamengo, na ensolarada tarde de domingo, no Pacaembu, não foi a esperada revanche do Timão depois do fracasso na Libertadores, por culpa do Mengão. Também não foi o recuo inexplicável do novo técnico corintiano Adilson Batista, que rapidamente trocou a ousada formação 4-3-3, aos 20 minutos do primeiro tempo, quando Dentinho se machucou, por um, na circunstância do jogo, conservador 4-4-2. Adilson entrou com mais um volante, Paulinho, que formou ao lado de Ralf, Jucilei e Elias. É verdade que este último foi mais à frente, quase jogou como meia, e fez o bonito gol, após sutil tomada de bola feita por Jucilei no vértice direito da grande área flamenguista. Elias, que costuma errar 9 entre 10 chutes de frente para o gol, desta vez acertou um belo petardo que foi morrer no canto esquerdo do goleiro Marcelo Lomba. Mas a surpresa também não esteve aí. Ela foi resumida, profeticamente, por um dos dois amigos com quem fui ao estádio. "Com essa camisa, o Flamengo veio para perder", afirmou ele quando o rubro-negro entrou em campo. Disse rubro-negro? Pois é, as melhores tradições do Clube de Regatas do bairro da Gávea empalideceram no estranho uniforme azul e amarelo com que os jogadores cariocas foram a campo. A velha garra flamenguista ficou no ônibus que trouxe a delegação. Com ela é que se poderia contar, já que o time de toque bonito faz tempo que não habita a Gávea. Com Zico nas cabines de transmissão, acima das numeradas, chamando mais atenção do que os jogadores em campo, foi como se o Corinthians estivesse enfrentado um time de camisa bizarra do interior paulista. Restaram apenas alguns lampejos do sempre bom Petkovic. O Corinthians nem teve pela frente a mística da bonita camisa do atual campeão brasileiro. Ficou mais fácil.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Salt agrada e satisfaz

Angelina Jolie é Evlyn Salt (foto Columbia Pictures)
“Salt”, com Angelina Jolie, em cartaz nos cinemas desde a última sexta-feira, num lançamento simultâneo ao dos Estados Unidos, é puro cinema de ação. Correm 1 hora e 39 minutos sem nenhum bocejo, com o espectador, ao final, já disparando o reloginho mental à espera de “Salt 2”. O roteiro de Kurt Wimmer é de todo improvável, mas não é absurdo. Estórias sobre infiltração de espiões em ambos os lados, nos Estados Unidos e na Rússia, são conhecidas. O difícil é montar um roteiro com credibilidade. Wimmer consegue. Mas, possivelmente, seria um filme menor se tivesse sido executado como o planejado inicialmente, com Tom Cruise na pele do agente infiltrado. Foi um lance de sorte, que acertou na mosca, mudar a personagem para uma mulher. Ter buscado Angelina Jolie para o papel de protagonista completa o acerto do estúdio (Sony). Seu desempenho é uma pequena jóia. Mostra por que ela é hoje a mais versátil das atrizes de Hollywood. Não apenas porque se empenhou em fazer as suas próprias cenas de risco, sem uso de dublês. Mas pela credibilidade que ela empresta aos mais absurdos encaixes do roteiro, como o de escapar de um bunker da CIA sem que seja detida, ou de se entregar ao serviço de contra-espionagem, para apenas poucos minutos depois livrar-se de algemas, guardas e abalroamentos espetaculares de carros e retomar sua rota alucinada de fuga. Embora todos saibamos que virá pela frente um happy end, “Salt” tem engenhosidade suficiente para iludir e supreender, como na revelação do mais graduado dos agentes russos infiltrados. Sabemos que a realidade frequentemente costuma ser mais dura do que a ficção. E que histórias de epiões levam, com frequência, a extermínios insolúveis e sofisticados. Espiões russos não têm nada de primarismo como o jogo de bem e mal hollywoodiano sugere. O assassinato do ex-espião russo Alexander Litvinenko, em 2006, envenenado lentamente por Polônio 210, em plena Londres,  mostra que a penumbra assustadora do submundo da espionagem pode mesmo superar, largamente, a ficção. Como, então, nos satisfazemos com as peripécias de “Salt”, mesmo alertas contra o jogo maniqueista do bem contra o mal? O desempenho convincente de Angelina Jolie potencializa a boa trama e desperta a dopamina do bem-estar que existe em todos nós. O herói em desalinho superando as barreiras da incompreensão agrada e satisfaz. 

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pastrana e Barros X Brasileirão xoxo

Pedro Barros fatura o ouro no Skateboard Park (ESPN images)

O já lendário Travis Pastrana e o promissor brasileiro Pedro Barros, de 15 anos, fecharam com medalhas de ouro a 16ª edição dos X Games, ontem, na tarde-noite de Los Angeles. Foi um belo contraste com a rodada xoxa do campeonato brasileiro e seus três clássicos medíocres: em São Paulo, Palmeiras 1 X 1 Corinthians, no Rio, Flamengo 0 X 0 Vasco e em Porto Alegre, Internacional 0 X 0 Grêmio. Em Los Angeles, a noite terminou com mais um show de Pastrana, que veio derrubando adversários no confronto direto desde as quartas de final, com transmissão ao vivo pela ESPN. Era a disputa da modalidade Speed (velocidade) & Style (estilo). Um a um, Pastrana deixou os competidores, inclusive um finalista muito técnico (Nate Adams), há muitos metros de distância. A modalidade, disseram os locutores, fora criada sob encomenda para Pastrana, mas ele mesmo ainda não a havia vencido nos anos anteriores. Antes de Pastrana, o menino brasileiro, apenas 1 ano mais velho que o impressionante (nas semifinais), mas ainda verde, Curren Caples, de só 14 anos, mostrou muita consistência, harmonia de movimentos e ousadia nos flips (rodadas com o skate colado aos pés) de 540 graus. Mesmo para um leigo como eu, a diferença entre os competidores salta aos olhos. E Pedro Barros, em seu primeiro ano de profissionalismo, chegou para ficar no mundo dos grandes nomes dos X Games, como o também lendário e brasileiro Bob Burnquist, que faturou o seu ouro na noite de sábado, na modalidade Mega Rail. Muito provavelmente, a vibração do garoto de Florianópolis poderá ser vista na edição dos X Games que a ESPN Brasil realizará em dezembro, em São Paulo. Vibração é mesmo a palavra-chave. Embora um esporte coletivo (futebol) tenha de ser visto de forma inteiramente diversa de um esporte individual (X Games), o que se pode dizer é que -- com exceção da boa atuação do Fogão em Vitória 1 X 3 Botafogo e de dois lances sensacionais do jogo Bragantino 1 X 2 Santos, em que o meio-campista Rodriguinho pegou um raro chute de sem pulo de fora da área, e do clássico carioca em que o goleiro vascaíno, Fernando Prass, fez uma sequência incrível de três defesas em chutes e cabeçada de jogadores rubro-negro -- pouca coisa foi digna de nota no Brasileirão. O clássico Corinthians e Palmeiras, provavelmente refletindo a transição de técnicos de ambos, não passará para a história do confronto como algo digno de lembrança. Mas domingo que vem, se a burocracia de meio de campo for desconvidada a entrar no gramado do Pacaembu, poderemos ter um muito interessante clássico Corinthians X Flamengo. Estarei lá.

Correções: os eventuais leitores hão de perdoar as minhas mancadas em posts anteriores. O nome correto do canadense vencedor de dois ouros é Pierre-Luc Gagnon e não Jean-Luc; e só com muita licença poética se pode dizer, como fiz, que Travis Pastrana criou o Motocross Freestyle


Veja também:
Link Nº 1
http://espnbrasil.terra.com.br/xgames/noticia/139375_AOS+15+ANOS+PEDRO+BARROS+VENCE+X+GAMES
Link Nº 2
http://espnbrasil.terra.com.br/xgames/noticia/139240_FAVORITO+NA+DISPUTA+BOB+BURNQUIST+VENCE+MEGA+RAIL#video
Link Nº 3
http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM1311160-7824-FANTASTICO+FERNANDO+PRASS+FAZ+DEFESAS+INCRIVEIS+AOS+DO+TEMPO,00.html
Link Nº 4
http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM1311148-7824-GOL+DO+SANTOS+RODRIGUINHO+PEGA+DE+PRIMEIRA+NA+ENTRADA+DA+AREA+E+MARCA+AOS+DO+TEMPO,00.html