sexta-feira, 21 de maio de 2010

Bebop + Havana Club = Sweet Memories


Milt Jackson na caixa, dose de Añejo 7 Años no copo, e o pensamento voa para a paulicéia de um tempo que não existe mais. O que um garoto de 20 anos podia fazer com o mundo inteiro por descobrir e uma vontade louca de mergulhar em toda a arte do bebop? Podia, por exemplo, entrar no mundo mágico das lojas Bruno Blois e Breno Rossi, das ruas 24 de Maio e Dom José de Barros, ir ao aquário de importados e mandar baixar Miles, Coltrane, Thelonious, Mingus, Dizzy e o que mais a grana pudesse levar para casa. Para um iniciante das notícias, dividido entre o desejo de pôr (sei que caiu o circunflexo, mas ele é tão bonito assim) tudo abaixo e encarar a disciplina de uma redação, o que fazer? O jornalismo vivia um grande momento, apesar da censura dentro das redações. Num pequeno retângulo da cidade, havia uma alta concentração de grandes redações, com profissionais feitos de uma argamassa que já não existe mais. Começando pela Rua 7 de abril, meio decaídos, sem muitas perspectivas, os Diários do Chatô onde um dia um jovem de 19 anos, entre tantos, começara a trabalhar nas pretinhas da Remington. Ao lado, um pouco mais à frente, a Visão, ainda do Said Farhat, onde se podia tentar algo, muito marginalmente, com ao fundo vários grandes nomes. Muito perto dali, na calçada da Avenida São Luiz, um dos tremendos objetos do desejo de iniciantes, e também não iniciantes: a sucursal do JB. Antes de chegar ao vértice da avenida, de onde se erguia imponente o Estadão, secundado pela rica Gazeta Mercantil (como se ganhava dignamente naquela época!), a sucursal do Globo no Conjunto Zarvos, onde sempre chegava, no começo da tarde, um certo setorista de esportes em sua luxuosa Brasília (luxo sim, porque ter carro era para poucos jovens estudantes, então). Isso era o que contava. A Folha, lá ao fundo, na Barão de Limeira, fora desse quadrilátero, apenas saía da sombra, pelas mãos de Cláudio Abramo. Era um tempo em que, frequentemente, a notícia ia em passeata pela frente dessas redações, puxada por montes de jovens vindos lá dos fundos da Cidade Universitária da USP dispostos a enfrentar gases e cassetetes. Era um tempo em que o papel picado caía em festa dos prédios do centro, saudando o novo e o desafio. E que, depois de tudo, podia-se molhar a garganta com um escuro e forrar o estômago com um churrasquinho com queijo, em pãozinho francês, da Salada Paulista. Mas também havia um divino croquete e as salsichas.

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