quarta-feira, 21 de julho de 2010

Crepúsculo em Paraty



Maxixe da família (Zé da Velha e Silvério Pontes)

São 6 horas da tarde e o sol teima em não morrer por trás da Serra da Boicana. Da ponta do charmoso cais de madeira da cidade, já vai alta a meio quarto de céu uma lua crescente que dá um tom prateado intenso nas águas da baía. A Leste, uma noitinha leitosa, banhada por uma cálida névoa, atrás da ilha da Bexiga, na direção da Ilha Grande, vai avançando lenta e preguiçosamente. Do lado oposto, a Oeste, o sol já deitou, mas ficam bem fortes ainda os sinais alaranjados de raios solares que teimam em iluminar o horizonte. A temperatura não poderia ser melhor nesses dias de inverno. Sei que o dia foi de muito sol e quase quente, em pleno inverno, mas não o pude aproveitar. Chegamos, vindos pela serra Cunha-Paraty, com a tarde caindo. Ainda deu tempo de pegar as nossas calóis reformadinhas, com todas as marchas agora em seus lugares, respondendo diligentemente aos comandos, e zarparmos para o cais. Sempre fazemos isso, eu e minha mulher. A temperatura beira os 20 graus. É uma sensação tão admirável que a pessoa é quem escolhe o que vai sentir. Pode correr pelo corpo um friozinho, como é o caso de Silvia, ou pode banhar uma quase tepidez de eriçar os pelos, após as boas pedaladas, como é o meu caso. À frente da crepuscular luz que alumia a Boicana, aos contrafortes da qual se abre a pequena planície em que a cidade foi construída no Tempo do Ouro, a cadeia de morros se impõe contra um céu de fim de tarde e nos convida a fazer um decalque mental. A linha do horizonte, banhada pela luz crepuscular, aparece chapada, como se não houvesse três dimensões. Pode-se recortar, mentalmente, o perfil da cadeia de morros e separá-la do céu. Embora a paisagem unitária esteja ali a sua frente, com os barcos de excursão ancorados, em primeiro plano, e o casario da cidade logo atrás, todos os elementos podem ser decupados e reunidos novamente, como numa quebra-cabeça. Barcos, casario, morros e céu. Tudo separado, ou tudo combinado na paisagem una. Para nosso regozijo ainda maior, tardaram em acender a fileira de luzes do cais, de tal forma que a intensidade da luz lunar pode inundar a baía e o brilho de Vênus ficar ainda mais intenso. Apenas alguns minutos depois, olha-se para o céu e um colar de estrelas já é visível. Tempo de ir embora e descobrir coisas. Na boa livraria da cidade, tem sempre algo para nos forçar ao gasto. Acho um CD de Zé da Velha e Silvério Pontes, com o sugestivo nome de "Tudo Dança". E compro também um CD duplo com músicas de Radamés Gnattali, executado pela Orquetra Sinfônica Petrobras, regida pelo maestro Isaac Karabtchevsky. Junto com os tangos que trouxe, uma ótima combinação para os próximos dias. Choros, maxixes, sambas e tango. Tá ficando bom isso aqui.

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