quinta-feira, 29 de julho de 2010

O torcedor ranheta

Toque de craque de Neymar (Folhapress)
Ao ver ontem pela TV, preferencialmente, o primeiro jogo da final da Copa do Brasil, Santos 2 X 0 Vitória, em lugar da semifinal da Libertadores, Internacional 1 X 0 São Paulo, chamaram-me a atenção as insistentes observações do ex-jogador Neto, hoje comentarista de futebol da TV Bandeirantes, sobre um pequeno grupo de torcedores ao lado da cabine de transmissão que não para de pegar no pé do jovem atacante Neymar. Não bastassem o gol refinado que ele fez, aparando o cruzamento da direita com um sutil jogo de corpo e uma leve peitada na bola que a põe no fundo do barbante, ou as jogadas desconcertantes e em velocidade pra cima dos zagueiros do Vitória, uma delas terminando em pênalti para o Santos; nada parece satisfazer um certo tipo de torcedor muito comum nos estádios. Assim como na Vila Belmiro, fui vítima de algumas dessas vozes no domingo passado, ao assistir no Pacaembu a Corinthians 3 X 1 Guarani. Ontem foi a vez de os detratores escalarem Neymar para Cristo. No domingo, aconteceu com Dentinho. Ambos são jogadores muito ligeiros e, frequentemente, um tanto preciosistas. Mas eles sabem muito bem que, no curtíssimo espaço disponível no campo, por causa das terríveis marcações, o jeito é tocar de primeira, para receber em seguida, ou buscar o inesperado, no drible fluente. Com isso, as jogadas são, cada vez mais, executadas em velocidade e é muito comum algumas serem frustradas. Vez por outra, ocorre de oferecerem o contra-ataque mortal para o adversário. Entretanto, quando se concretizam, geralmente terminam em coisa boa - gol do próprio atacante ou passe de bandeja para algum companheiro. Mas o torcedor ranheta não quer saber do inesperado. Depois que Neymar perdeu o pênalti que ele próprio cavara, as vozes reclamantes ficaram mais exaltadas. No domingo, Dentinho não teve a sorte de fazer gol e, ainda por cima, terminou expulso por um gesto espalhafatoso, que o mau juiz entendeu como tentativa de agressão. Na TV se pode ver depois a simulação grotesca do jogador do Guarani, "ferido" sem ter sido atingido. Ainda na Vila, ontem, o torcedor ranheta desatou a chamar o bom técnico Dorival Junior de burro porque substituiu Ganso por Marquinhos. Não querem nem saber as razões do técnico. Não olham que Ganso voltou de uma operação feita há pouco, no período da Copa. Nada disso. Esses caras querem mesmo é reclamar. Só que, na Vila, tiveram de engolir as vaias, depois do bonito gol de falta de Marquinhos. Eu até hoje não consigo entender esse tipo de gente. Se alguém puder me explicar, por favor, sou todo ouvidos. Mas conheço bem ao que leva o contágio desses torcedores em certos momentos propícios ao mau humor. Na história, é possível lembrar da saída de Rivellino, do Corinthians para o Fluminense ou, mais recentemente, de Kaká, do São Paulo para o Milan. O pior é que não há antídoto contra esse tipo de gente. Nem mesmo quando, no estádio, você consegue mudar de assento, como fiz no domingo passado. Sempre haverá perto de você um espírito de porco a chafurdar em ranzinzice perpétua.

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