segunda-feira, 19 de julho de 2010

Recuerdos de los '70



Chego de Buenos Aires, abro o CD duplo, uma antologia de Astor Piazzola que comprei, ouço "Balada para un loco" e um filme do presente e do passado começa a se desenrolar em minha mente, alternando as imagens. O presente fresco de uma avenida Callao citada no tango e recém descoberta pelo neófito, desde um longo passeio a pé entre o Museo Nacional de Bellas Artes, na avenida del Libertador, bem perto do cemitério da Recoleta, e o hotel onde estive, Ibis Congreso. Algo assim como uns 6 quilômetros em lentas passadas, andando pela majestosa calle Alvear, costeando as belas construções das embaixadas brasileira e francesa. Por trás desta, abre-se o Cerrito, que com suas largas pistas de rolamento entremeadas por generosas calçadas ajardinadas se dirigem até o referencial Obelisco cravado na esquina com a Corrientes. De novo me pergunto por que demorei tanto para ir à capital argentina. Acaso não havia me encantado Piazzola e Amelita Baltar quando os descobri, em 1974, abrindo caminho e exceções entre os meus sempre preferidos Mingus, Monk e Davis? Acaso não éramos todos uns jovens "locos", uns curtindo a impotência diante da fúria sanguinária instalada por Pinochet, depois de tocar a fronteira argentino-chilena em busca de uma insana resistência que nunca haveria de ocorrer; outros curtindo as dores de "homens em tempos sombrios" (sic Hannah Arendt) nos acordes doces e furiosos de Astor? Além da descoberta fresca de Buenos Aires, agora, e das recordações sonoras de meus 19 anos revividas pela visita, é agradável voltar com os celulóides mentais da riqueza daqueles anos, após ver no MALBA, o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, uma bela exposição do fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe (1946-1989). É bom também ter podido olhar de perto o Abaporu, da Tarsila Amaral, os prelúdios dos parangolés de Helio Oiticica, os móbiles de Ligia Clark, e, no Museu Bellas Artes, a incrível coleção de quadros de Rembrandt, Goya, Manet, Monet, Gauguin, Sisley, Modigliani, Picasso e belas esculturas de Rodin. Rica é Buenos Aires, bela sua música, forte a sua cultura. Pelas próximas semanas, vou mergulhar na singeleza dos acordes de Piazzola, na bela voz de Mercedes Sosa e no lamento de Gardel. E correr o filme de minhas lembranças. Con mucho gusto.

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